terça-feira, 28 de janeiro de 2014

POEMAS DA GUERRA DE INVERNO: Segunda edição impressa, revista e acrescida com novos poemas



Publicado em formato de livro eletrônico em meados de 2012, a primeira edição deste livro já surgiu com duas ausências, um poema (Thor Odinson) que havia ficado perdido e inacabado na pasta de rascunhos de meu celular, e o pequeno Batalha de Guadalcanal (publicado posteriormente em meu livro DEUS AMANHECER).
Somados a outros poemas escritos no período imediatamente posterior à primeira edição, poemas de fundo marcial, viciados pelo mesmo élan existencialista dos demais, me pareceu oportuno publicar esta segunda edição revista e acrescida, acatando sugestão que primeiramente partiu de meu amigo poeta, Francisco Carlos Machado. E agora, na forma de livro impresso.
Os novos poemas enxertados no corpus desta dor: Thor Odinson, Batalha de Guadalcanal, Enterrem meu coração na curva do rio, A Morte do Berserker; três poemas de um pequeno ciclo ulisseano, Odisseu: Aproximações, Hino Combatente e Bloomsday Confraria (todos já publicados em blogs e redes sociais); E ainda os textos inéditos: Grande Guerra Patriótica – Poslúdio: A Morte do Camarada Arkhady, Legio Patria Nostra e Carta do Pracinha Dirceu para a jovem Marília.
O poema Sobre a Fênix Assassinada, que faz uso de cores em sua expressão, originalmente fechava a seção Omnia Funera, mas aqui precisou ser realocado para a contracapa do livro, pois seria impraticável publicá-lo em cores, no miolo do volume.
Falei do livro DEUS AMANHECER. Agora ocorreu-me algo: se aquele é um livro sobre a Vida, este seria um livro sobre a Morte? Faltar-me-ia então o mais difícil, um livro sobre a Interseção. Mas talvez a interseção entre Vida e Morte inexista...
No mais, que posso acrescentar? Eis a Guerra, fêmea sem vulva, eis a hecatombe humana e eis a angústia primal & matricial.

O livro está à venda no site do Clube de Autores, AQUI.





domingo, 26 de janeiro de 2014

JUSTAMENTE

JUSTAMENTE

“… e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura…”
Mário Cesariny, “Uma certa quantidade”


justamente — dizes
são os poetas, os que caem e vêm à procura
em cada pedra o sol
gente, pássaros de regresso ao Norte
do que já não precisamos, do que já temos

a pólvora, a gente, a agitação das ondas
a perturbação da areia
a fugir

justamente — dizes
são os poetas, os que aparecem de repente
quando já
não eram requeridos,
quando já
foram, estão substituídos
quando já a comida tem sal
que chegue, mas para que precisamos do sal
afinal, se nem temos o vinho?

justamente — dizes
são os poetas, os que doem
e fingem aqui e acolá, que não
cantam, mas emitem pássaros
que cantam por eles


quando já não são precisos
quando são poetas

Rui Miguel Duarte


23/01/13

Publicado ineditamente em Poeta Salutor

sábado, 18 de janeiro de 2014

O ÍNDICE GLOBAL DA FOME




A fome vai ter tudo, geografia
contentores, a tristeza de se expôr
as mãos no lixo, a tristeza
que é um pássaro de água solitário
que fere os nossos olhos como um vidro
A fome vai ter tudo, 815 milhões
olhos que partem as janelas das órbitas
e perguntam
um rosto de criança que entrará
no diário da tarde, e um umbigo
esbugalhado no centro do estômago
A fome vai ter tudo, o solo debaixo do chão
ou a esperança
que vai acreditar em qualquer coisa.

11/4/2013
© João Tomaz Parreira

sábado, 11 de janeiro de 2014

O BRINCO

A Rapariga do Brinco de Pérola, Vermeer


Ali começa a nascer um sistema solar, um planeta
move-se  na orbita do rosto, brilha
ainda uma breve sombra
do abismo
ali de onde a luz se ergue. Um espelho
começa ali naquele rosto
onde a beleza sorri entre os lábios
um silêncio.

11-1-2014

© João Tomaz Parreira

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Navegando para a Terra de Ninguém



“That is no country for old man”
W.B.Yeats



Ali  não é país para os velhos, os ramos
estiolados das primaveras, as bengalas
gastas a estenderem-se das mãos, enquanto puderam
podaram rosas
altivas nos olhos juvenis, agora
têm a dança solitária da tristeza  
nos seus sonhos, isso não é país
para os velhos, vivem tanto tempo
e pesam demasiado espaço aqui,  há a terra de ninguém
mandem-nos para lá, há pouca certeza
de que sobrevivam, estão grisalhos
mandem-nos para o Ocidente
onde se apaga a luz do sol.


7-1-2014
©  João Tomaz Parreira

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Nos jardins da Babilónia

aprendi a língua da Babilónia
a língua que falam 
as árvores 
                   da glória 
aprendi como os jardins se levantam
                   e abraçam o zigurate
aprendi a moldar a lama 
                   e dar-lhe a candura do rio

aprendi a língua da Babilónia
a língua que cantam 
sonhos estátuas duras
                   de profecia

aprendi que o vinho existe
e que se degusta antes de o dia 
                   ter espessura
que se bebe de janela aberta
                   só

aprendi 
onde as ruas
                   se cruzam
com masmorras as vozes que denunciam
que o banquete dos aromas
                   vai começar

aprendi e depressa desaprendi
o que tem a Babilónia para eu lhe ensinar?


Rui Miguel Duarte
31/12/13

Via Dolorosa


Não tinha a esperança
de que a subida fosse leve, sabia
que o tronco do madeiro sobre os ombros
era o amor impossível do mundo,

sabia que era íngreme a morte,
e a subida quase a tocar o sol
no cume do Calvário,

sabia que havia pedras como espinhos
na tristeza do caminho, sobre as pedras
a humidade dos pés, os últimos
passos com as sombras nos olhos.

© João Tomaz Parreira

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Devenir, devir - Waly Salomão


Devenir, devir 

 Waly Salomão 

 Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.

 Também não pode ser
 a pacatez burguesa do
ponto seguimento.

 Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.

 Morro e transformo-me.

 Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém

 Morre e transforma-te.
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